Os nossos infortúnios são curados pelo grato reconhecimento do que de bom nos acontece e pelo reconhecimento de que é impossível desfazer o que está feito.
Epicuro, 341-
“Estamos a passar uma crise nacional - oh, oh, oh - ei, ei, ei”, rezava a letra duma música dum conhecido grupo musical português do “bas fond” nortenho do início dos anos 80. E realmente estávamos… mas quem queria lá saber disso!
Acabados de sair de uma revolução florida mas pouco ou nada psicadélica, cheios de esperança mas com pouco dinheiro no bolso, o país reencontrava-se consigo próprio e iniciava uma lenta viragem a partir do “inferno” da “ditadura do proletariado” e dos “amanhãs que cantam” dos anos 70 para o “paraíso” da “ditadura das leis do mercado” e da “livre concorrência” dos anos que se seguiram.
Lá fora e nesse entretanto, a roda da História continuava a girar fazendo cair com estrondo um certo muro na cidade de Berlim e, com ele, o regime comunista soviético, relegado para o baú das más recordações e das criminosas experiências falhadas da humanidade, deixando em cena um capitalismo que se ergue dos escombros, triunfante, único sobrevivente e digno representante do pior que há na espécie humana: a ganância.
Abrem-se e desregulam-se os mercados mundiais, globaliza-se a economia, criam-se paraísos fiscais, as multinacionais deslocalizam as unidades produtivas para terem menores custos, os países concorrem entre si para produzir cada vez mais barato, as bolsas incham e esvaziam-se a ritmo alucinante, dando dinheiro a poucos e tirando a muitos, regimes comunistas rendem-se às virtualidades da economia de mercado e, de repente… chovem aviões cheios de gente sobre edifícios gigantescos no paraíso capitalista.
E, depois disto, nada voltou a ser o mesmo… na altura ninguém percebeu, mas agora é muito claro que a queda desses edifícios foi uma metáfora da queda fragorosa do “outro muro de Berlim”, marcando o início da agonia do regime capitalista por falta de sustentabilidade, porque sendo os recursos do planeta limitados, o crescimento económico infinito é impossível: tem que haver uma ruptura!
Fazem-se guerras, invadem-se e destroem-se países à revelia do Direito Internacional, prendem-se, torturam-se e matam-se pessoas sem julgamento e sem culpa formada, aniquilam-se vidas aos milhões, produz-se e consome-se petróleo como nunca e este nunca é suficiente, a poluição e o desperdício tomam proporções inimagináveis, sente-se o clima a mudar e a aquecer e agora, por fim, a economia a arrefecer.
A crise começou de mansinho, no crédito hipotecário do paraíso capitalista, contaminou bancos, empresas, bolsas e está a espalhar-se pelo mundo como fogo numa seara no Verão, com os bancos dos Estados a financiar este descalabro. Mas como e com quê? Com o papel que eles próprios fabricam? Até quando?
“Estamos a passar uma crise nacional - oh, oh, oh - ei, ei, ei”, pois é… e agora, José?
Muro de Berlim (que assim regressa)
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